sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O Pobre Padre Idoso e a Cultura da Ingratidão

(Pe. Thiago Linhares)

Como padre novo a todo instante escuto pessoas reclamando de seus padres velhos. Pobres Padres velhos!

Em época de padres “pop stars”, cantores, curandeiros - e porque não dizer ilusionistas – cresce a cultura da ingratidão!

Pobres Padres velhos, que na sua vida não aprenderam a ser cantores, mas muitas vezes tiveram de sustentar o canto porque na missa não havia quem cantasse…

Pobres Padres velhos, que não sabem se comunicar na televisão, mas que durante toda sua vida enfrentaram o desafio de comunicar o evangelho mesmo com tão poucos recursos…

Pobres Padres velhos! Sobre eles não se jogam os holofotes dos palcos, porque aprenderam a ser padres nos sertões da vida, celebrando missas iluminados pela vela e não por canhões de luz.

Padre russo, anônimo, iluminando seus fiéis com luzes de velas


Pobres Padres velhos, que viveram toda uma vida ungindo os doentes, mas que levam a fama de não curarem como o padre tal. Padres que não mais arrastam multidão, mas que em tempos longínquos eram, sozinhos, pastores de um rebanho imenso...

Não fico feliz quando as pessoas dizem: “queríamos um padre novo como você!” Sabe porque não fico? Porque quando eu ficar velho, vão dizer o mesmo de mim para outros! Muito menos fico feliz quando um padre novo se acha melhor que um padre mais velho! Pobre padre novo! Beberá de seu próprio veneno!

Padre chinês do Patriarcado Russo. A despeito da idade, a dignidade santificadora


É fácil a gente gostar do padre quando ele torna o culto mais emocionante, o difícil é ter maturidade cristã para compreender que aquele padre que hoje precisa de um pouco mais de paciência, já teve paciência com tantos!

Minha gratidão e oração aos padres velhos e esquecidos, mas que, durante toda uma vida, trabalharam para que as pessoas fossem novas e se lembrassem de Deus.



Extraído da internet via facebook

Agradecimentos especial a Daniel Machado, da Igreja Ortodoxa da Sérvia no Brasil, que divulgou este texto

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Carta a um Convertido

A presente carta foi escrita por Madre Tecla a um de seus filhos espirituais que buscava a ortodoxia. Seu teor é ao mesmo tempo forte e catequético, capaz de esclarecer muitas das dúvidas que aparecem na mente daqueles que, por um motivo ou outro, querem saber mais sobre a Igreja Ortodoxa e até mesmo buscam a conversão.

Prezado “João”,

Pelo que eu entendi, você está prestes a se tornar ortodoxo. Não sei nada sobre você a não ser o fato de que é inglês.

Antes de mais nada, há um ponto que eu gostaria de deixar claro. Não me disseram por que você quer se converter, mas eu lhe garanto que não faz o menor sentido se sua conversão for motivada por razões negativas. Você vai encontrar tantas coisas “erradas” (se não mais) na Ortodoxia quanto na Igreja Anglicana ou na Igreja Romana.

Portanto, o ponto principal aqui é: você está preparado para encarar mentiras, hipocrisias, maledicências etc. na Ortodoxia tanto quanto nas demais religiões ou denominações? Você está achando que vai encontrar uma espécie de paraíso na Terra, cheio de incensos e do tipo certo de música? Você acha que vai direto para o céu só porque faz o sinal da Cruz lentamente, com o devido cuidado e correção? Você tem um livro de culinária com todas as receitas dos autênticos pratos russos de Páscoa? Você já é um especialista em beijar três vezes em todas as ocasiões possíveis ou impróprias? Você consegue se prostrar com elegância, sem deixar cair papéis dos bolsos?

OU.....

Você leu os Evangelhos? Você já encarou o Cristo crucificado? Você esteve em espírito na Última Ceia – o sentido da Santa Comunhão?

E.....

Você está preparado, com toda a humildade, para entender que você nunca, jamais, nesta vida, saberá nada para além da Fé; que a Fé significa aceitar a Verdade sem prova. Fé e conhecimento são o píncaro da contradição – e a absorção última uma na outra. A Ortodoxia viva baseia-se no paradoxo, o qual é transmitido na adoração – pública e privada. Conhecemos porque cremos, cremos porque conhecemos.

Madre Tecla com seu filho espiritual, o compositor britânico Sir John Tavener

Acima de tudo isso, você está preparado para aceitar que todas as coisas vêm de Deus?

Se o que importa é “ser feliz”, então por que a Crucificação? Você está preparado, não importa o que aconteça, a acreditar que de alguma forma, em algum lugar, isso faça sentido? Isso não significa aguentar as coisas passivamente, mas a eterna vigilância; acima de tudo, Amor.

Pobres, velhos, doentes, até nosso último suspiro, conseguimos amar. Não essa bobagem sentimental que chamam de amor, mas o amor sacrificial – a crucificação interior da ganância, da inveja, do orgulho.

E nunca confunda amor com sentimentalismo.

E nunca confunda adoração com afetação.

Seja humilde – ame, mesmo que seja difícil. Não essa coisa sentimental que chamam de amor. E não faça da adoração na igreja um jogo de cena!

Espero que alguma coisa do que disse faça sentido.

Atenciosamente,

Madre Tecla


Extraído da internet via facebook
Fonte: The Orthodox Parish of St Aidan & St Chad, Nottingham

terça-feira, 9 de agosto de 2016

O Cordeiro de Deus

É típico do Evangelho de São João que seja atribuída a São João Batista a primeira afirmação sobre o sacrifício do Cristo. Segundo o Apóstolo, o Precursor teria proclamado, na primeira aparição de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!” (Ev. segundo São João 1:29).

O Batista havia predito a chegada de alguém que vinha após ele, mas era antes dele, porque o precedia (em relevância): “Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro que eu” (Idem, 1:15; 30). É este mesmo João Batista que testemunha ter visto “... o Espírito descer do céu como uma pomba e permanece sobre Ele” (Ibidem, 1:32). Eis o porquê de afirmar também já reconhecer Jesus por seus sinais, mesmo antes de ele conhecê-lo pessoalmente – “E eu vi e tenho testificado que Este é o Filho de Deus” (Ibidem, 1:34).

A revelação destas profecias ocorre, evidentemente, quando se é realizado o batismo de nosso Senhor. É neste momento, de acordo com os Evangelhos sinóticos, que o Espírito Santo vem sobre Jesus, enquanto a voz do céu declara-O “Filho amado de Deus” (São Mateus 3:16-17; São Marcos 1:10-11, e; São Lucas 3:22). É este o cenário em que o Batista chama Jesus de “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
"Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!"

 A metáfora – Para expor esta identidade do Cristo – o Cordeiro de Deus – São João Batista vale-se de uma metáfora que combina a evocação de três imagens bíblicas. Podemos elencá-las em ordem.

Em primeiro lugar, ao fato do Cordeiro de Deus ser invocado para levar embora o “pecado”. Certamente o Precursor faz aqui uma referência à prática judaica descrita no Antigo Testamento – chamado chatta'ah – que significa literalmente “oferta pelo pecado”. A finalidade deste sacrifício era curar e reparar o estado espiritual degradado, maculado — o eu interior, o nephesh — daquele que ofendeu a Deus de alguma maneira relativamente grave. O “pecado” (chet') a ser expiado no contexto deste sacrifício não era tanto o ato pecaminoso em si, mas o desregramento, a falta de ponderança e observância que resultaram da sua falha moral, física ou social. O chatta'ah, portanto, não é uma penitência exigida por Deus, mas antes uma tentativa de retificar, purificar e consagrar o ser humano, religando-o com Deus.

É significativo, portanto, que o Cordeiro de Deus é chamado para levar embora o “pecado do mundo”, não os pecados do homem. São João Batista tem em mente, assim, a percepção de um mundo, uma humanidade caída, não das falhas individuais das pessoas.

Considerando que um carneiro, um novilho, foi vítima prescrita no chatta'ah do Antigo Testamento, Jesus é identificado como “o Cordeiro que tira o pecado do mundo”. João Batista não inventou essa mudança na imagem. Veio de outra fonte bíblica: o livro de Isaías.

É neste texto que aparece a indicação que aparecerá a descrição do servo de Deus sofredor: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca” (Isaías 53:7). São João Evangelista segue igualmente este caminho ao identificar Jesus como o servo sofredor, declarando que o Pai “enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (John 03:17).

Assim, quando João diz que o Filho do Homem "deve ser elevado" (dei hypsothenai) (03:14; cf. 08:28; 12:32), ele está mais uma vez invocando a profecia de Isaías que o servo do Senhor "será levantado acima" (hypsothesetai, 52:13 Isaías 70).
O Cordeiro imolado. Cristo faz-se oferenda para salvar a humanidade de seus pecados.
É instrutivo observar que em Isaías 53:4-7, onde o servo (neste caso o próprio Cristo) é comparado à oferenda, a vítima imolada é identificada como um cordeiro, não pelo pecado — como na Torá — um novilho, mas o próprio Filho de Deus pelo mundo. Este texto de Isaías é a lente através da qual São João Apóstolo e os outros autores do Novo Testamento lêem a Torá (Êxodo 29, Levítico 4; Números 28), quando eles tratam o sacrifício de Jesus como uma oferta pelo pecado.

Em terceiro lugar, a referência de João Batista a Jesus como “o Cordeiro de Deus” também evoca a imagem do cordeiro da Páscoa, pois os holocaustos neste tempo claramente fazem alusão não à libertação dos pecados individuais, conforme afirmado anteriormente, mas especialmente à redenção de Israel da escravidão do Egito idólatra. A oferta de Páscoa era, de fato, o único sacrifício de Livramento.

As prescrições que regem este sacrifício, que melhor expressa, indiscutivelmente, a substância da fé hebraica, foram dadas a Israel antes da chegada do povo no Sinai. Na verdade, elas foram dadas mesmo antes do Egito ao povo escolhido! (Cf. Êxodo 12:43-13:16)

Disse o Precursor: "Eu vos batizo com água para arrependimento; porém virá Aquele que vos batizará com o fogo do Espírito Santo"
O significado teológico deste sacrifício particular levou os cristãos a interpretar o Cordeiro Pascal como um tipo ou figura de Cristo, que foi morto para arrancar a raça humana da escravidão demoníaca. Por esta razão, São João, o Evangelista, ao explicar por que os soldados não quebraram as pernas de Jesus crucificado, cita um verso originalmente pertinente para os cordeiros imolados na Páscoa: “Porque isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado. E novamente diz outra escritura: Verão aquele que transpassaram” (Ev. segundo São João, 19: 36-37). O Apóstolo tem o cuidado, inclusive, de identificar a ocasião quando este verdadeiro Cordeiro pascal foi preparado para o sacrifício: “E era a preparação para a Páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei” (Idem, 19: 14).

Versão em português do original escrito por  P. Patrick Henry Reardon
Ponderações de pastorais - 28 / 12 / 2015


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Humildade: sinal de amor

O maior pecado humano é o orgulho, pois nasce daquilo que realmente é mais obscuro. Orgulho e egoísmo caminham lado a lado. Porém, onde habita a graça de Deus, os dois não prosperam.

É muito difícil lutar contra o orgulho, posto que nosso ego faz simbiose com este monstro e nós não nos damos conta que somos levados à cegueira por ele. Ao nos tornarmos orgulhosos somos, pois, “cegos guiando outros cegos”! (São Mateus 15: 14), mas não somente isso.



Desde muito pequenos somos instigados a pensarmos de maneira orgulhosa e arrogante: “Filho, tu deves ser o primeiro da tua turma para trazer orgulho aos teus pais!”; ou “Filha, não sejas uma qualquer, você dever ter mais orgulho!”... e isso faz com que cresçamos e nos perguntemos: “Como assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos?!” (São Mateus 20: 16). Quando entendemos estas palavras, nos deparamos com a triste realidade.

O maior pecado humano é o orgulho, pois nasce daquilo que realmente é mais obscuro. Orgulho e egoísmo caminham lado a lado. Porém, onde habita a graça de Deus, os dois não prosperam. Por isso, quando dizemos que alguém é uma “grande pessoa” o primeiro traço de personalidade que nos leva a considera-la “grande” deve ser sua humanidade, posto que “humanidade” é sinônimo de amor.



Pecados Humanos e a Misericórdia Divina

Conta São Nicolau Velimirovich que, certo dia, um padre caminhava por uma estrada vazia num dia quente quando, de repente, salta da moita um homem de aparência selvagem e com uma arma. Ele disse ao padre:

- Eu matei 99 homens, e você será o centésimo!

O padre respondeu-lhe:

- Eu estou preparado para morrer, mas por favor, antes que me dê o tiro, me dê um pouco de água para beber, pois estou com sede.

O assassino ficou confuso por um momento, mas então levou o padre, na ponta da arma, até seu casebre no mato onde deu-lhe um copo de água para beber. Enquanto o padre bebia a água,o assassino teve um ataque cardíaco e morreu.



Os anjos vieram do céu para escoltar a alma do assassino para o céu, mas os demônios começaram a reclamar com eles:

- Esse sujeito matou 99 homens, além de ter cometido muitos outros pecados menores. A alma dele nos pertence!

Mas os anjos responderam aos demônios:

- É verdade, porém, ele também realizou dois grandes feitos para o Evangelho de Cristo e que pesam muito mais que todos os seus pecados. O primeiro foi que ele confessou seus 99 assassinatos para um padre e o segundo foi que deu água a quem tinha sede.

Portanto, fica o ensinamento: nenhum pecado, não importa quantas vezes tenha se repetido, é maior que a misericórdia de Deus.